domingo, 3 de abril de 2016

(In Portuguese / English) Em Português/Inglês, AS ATRAÇÕES SÃO PROPORCIONAIS AOS DESTINOS; Sobre a Apreciação da Música Melgaciana ou Entre sem Bater

"Três coisas que não podem ser 
escondidas por muito tempo: 
o sol, a lua e a verdade."
- Siddhārtha Gautama
(Three things cannot be long hidden: 
the sun, the moon, and the truth.)

Why this blog exists?

Revealing the circumstances. I was part of a "non-commercial music recommendation system," whose name is rateyourmusic. "Rate" or "hate"? Who knows? What happened was that I suffered dictatorial censorship after raising issues such as the criteria adopted by some of the "associates."

From that, I expressed my dissatisfaction with this draconian corporatist stance of those who are "administrators" and soon I was "gagged". I had my movements "mummified" there. All "administrators" came together like a swarm of mutually onanistic drones, there was no chance to a real "contradictory", was an oligarchic verdict and already with marked cards. So I chose to leave my profile. Positively to my portfolio politically incorrect, I can not deny. And after seeing how things work there - if you are not obedient to unfair rules, you will be silenced - I do not have time for this "us or them" and if there´s no dialectics, I have more to do out there.

For those who do not have this clarification, there´s a score from 0 to 5 for each posted record, which is available to anyone who will be part of this musical "Michelin Guide" supposedly democratic - since you do not question anything and follow the imposed incongruities. I make a reservation, there are also people not related to this unfortunate fact - not those who manage the place - and who are serious and do a great job of posting artists who deserve to be made accessible by the public. Among some really fundamental names, Otacílio Melgaço. I have long admired the work of this great artist and so I had the pleasure and honor of stumbling upon Otacílio over there, between, as I said, some truly unmissable names propagated in rateyourmusic. So I set out to give more basement to the website about the "Melgacian" complexity. And so it happened that already narrated in the preceding paragraphs.

My blog, then, has two tasks to fulfill. I decided not to allow it to be unknown or lost because it should stay in distant past any circumstance that could force us to silence by those who act with coward presumption. And especially, give more expression to my admiration for this Brazilian composer and multi-instrumentalist who is Melgaço. Or O.M.

What is reproduced below, partly in English and most in Portuguese, is simply the totality of the content I have narrated above. For those who want to become more aware, just go to the website and, please, check the references and pages. I wish that everyone draw their own conclusions. Thank you all. (Havillar)


"A distorção de valores chegou a tal ponto que pessoas discretas são consideradas arrogantes (...) e as que não se rendem a modismos são taxadas de esnobes. Ser autêntico (...) virou ofensa pessoal. Ou a criatura faz parte do rebanho, ou é um metido a besta." (M.M.)

Revelando as circunstâncias. Eu fiz parte de um "sistema de recomendação de música não comercial" cujo nome é "rateyourmusic". "Rate", ou seria "hate"? Sabe-se lá. O que aconteceu foi que lá passei por uma censura ditatorial após ter levantado questões sobre os critérios adotados por alguns dos "raters". Depois disso, manifestei meu descontentamento com essa postura corporativista draconiana dos que são os "gerenciadores" e, como não seria diferente, fui "amordaçada", tive meus movimentos totalmente engessados e postagens deletadas. Todos os "gerenciadores" se mancomunaram como num enxame de zangões mutuamente onanistas, não houve um caso de abertura ao "contraditório", e assim preferi abandonar meu perfil. Ou ser banida porque é o que fazem com o trombone desafinado da "orquestra". Isso conta positivamente para meu currículo politicamente incorreto, não posso negar. E, depois de ter percebido como as coisas funcionam por lá para quem se torna "inconveniente", não tenho tempo para esse "nós ou eles", se não há dialética, tenho mais o que fazer.

Para quem não conhece, há uma pontuação de 0 a 5 a ser dada a cada disco focado por todos que se habilitem a dar corda nesse "Guia Michelin musical" supostamente democrático. Democrático desde que você aja em total obediência às perspectivas skinnerianas que reinam por lá. Se se comportar como é o esperado e supervisionado, seja de forma construtiva ou destrutiva (ao se referir a um artista ou outro), sem problemas. Se questionar a engrenagem, sua conivência e totalitarismo, pagará o preço imediatamente. Na minha opinião, por falar em destrutividade, existe esse lado deplorável de "hateyourmusic" mas também há pessoas não ligadas a todo esse evento lamentável, as que postam novos artistas. Não os truculentos "leões de chácara", falo de pessoas que são sérias e fazem um ótimo trabalho divulgando quem merece ser mais conhecido e acessado pelo público. Já acompanhava há mais tempo a obra dele e assim eu tive o prazer e a honra de reencontrar, dentre alguns nomes realmente que merecem projeção propagados no referido site, o de Otacílio Melgaço. Me propus a dar mais embasamento a esse nicho no que valia à complexidade do esplêndido artista. E assim se deu o que já narrei no primeiro parágrafo.

Meu blog então tem duas missões a cumprir. Não deixar o que aconteceu se perder no vácuo virtual porque já ficou para trás o tempo em que podíamos ser obrigados a nos açaimar por quem quer que prepotentemente seja. E, o mais importante que é dar mais vazão a minha admiração por esse compositor e multi-instrumentista brasileiro que é Melgaço. Ou, se preferirmos, O.M.

O que está reproduzido logo abaixo, parte em Inglês e grande parte em Português, é simplesmente o conteúdo desse ocorrido, na íntegra. Para quem quiser ficar mais a par, basta ir até ao site e farejar as referências e páginas que serviram de cenários para tudo. Com facilidade fará toda a contextualização. Obrigada a todos;

Havillar



(O.M.; fonte: Instagram)

About Otacílio Melgaço

The Melgacian Work does not fit into lists. All albums should be side by side in a horizontal line. There´s no favorite, all are.

Otacílio Melgaço. In my opinion, he´s a Sphinx that devours us and allow himself to be devoured simultaneously. Enigmas are deciphered, new enigmata are genuinely generated every new creation and thus there´s a fascinating perpetual "moto". Thereby his compositions are an irresistible invitation to expand our listening to new levels and heights.

In an oftentimes increasingly ephemeral world, hostage of a voracious and emptied haste, some artists become medulla, antithetical to this general jelly. O.M. is one of them.

O que me fez, além de "pontuar" os discos de O.M. e de questionar o modus operandi de rateyourmusic, escrever o que escrevi sobre o artista?

Há um espaço para comentários respectivos a cada disco, quem desejar fazê-los, tem essa oportunidade. A mesma que, depois, me foi tirada pelo site. E eu percebi que houve ali um equívoco, no caso de "Brutalism", obra contundente do jazz "melgaciano". Um sujeito estrangeiro falara sobre a ambição de Melgaço ao tratar de um tema arquitetônico sob a forma de música. Era um elogio. (Um detalhe revelador é que esse participante era um dos "moderadores" e logo após toda a celeuma que eu causei, as palavras dele foram retiradas desse espaço. Ele mesmo o fez, só ele teria como retirá-las e isso só comprovou como todos os "administradores" agem como uma tropa sob pensamento único, orquestradamente no pior sentido do termo.) Tudo bem, tinha sido um elogio mas outros comentadores não perceberam isso e, sem um pensamento próprio, reproduzindo uma leitura distorcida na melhor hipótese do "quem tenta contar um conto originalmente bom, pode, desavisado, aumentar um ponto que acaba se revelando esvaziado e se antitético, desastrosamente antitético", essas pessoas começaram a institucionalizar "ambição" como "pedantismo". E não achei correto ficar calada diante dessa política míope de rebanho. O que procurei fazer foi argumentar que todos os grandes artistas são seres audaciosos, impertinentes, diferenciados e..., de alguma forma, ambiciosos. E assim direcionei minha intervenção. Depois disso, vi um novo comentário de outro participante. Como era mais uma cópia daquela comédia de erros, e isso quer dizer que provavelmente ele não leu minha explanação, dessa vez procurei desmembrar o discurso dele, esse "mais do mesmo", e propiciar a Heitor, é o nome ou nickname do distinto, um retorno crítico minucioso, fragmento por fragmento. Como peroração, minha queixa à falta de critérios do site ao acobertar alguns "haters" e não "raters". Está registrado a seguir e essa foi a origem de tudo.

Eu queria agradecer aos dois resenhistas oficiais de Melgaço, Pablo S. Paz e Caio Campbell, porque me inspirei muito, tanto nos conteúdos férteis de suas colocações quanto no modo como formatam seus argumentos, em suas terminologias e assim por diante.

Devo muito a Caio, com quem consegui entrar em contato e contar com seu direto auxílio para redigir meu texto. Há muito dele em cada palavra e isso me honra. Fico realmente agradecida.

Meu muito obrigada a Pablo também, que, após ter acesso, alertado por Campbell, a meu blog, me escreveu atenciosamente e adicionou à resenha oficial feita para Brutalism, um prólogo. Ele me pediu permissão para estabelecer alguns paralelos com minhas opiniões prévias e fiquei bastante lisonjeada com isso. Vocês podem conferir no seguinte link:

http://melgacootacilio.bandcamp.com/album/brutalism-otac-lio-melga-o-duration-31-47

Também tive como referência as sempre interessantíssimas entrevistas, declarações...do próprio Otacílio, espalhadas por seus inúmeros sites.

 What made me, in addition to rate the O.M. discs and to question the modus operandi of rateyourmusic, write what I wrote about the artist?

There is space for comments related to each album, those who wish to do them, they have that opportunity. The same as, after, the site prevented me from using. There was a mistake in the case of "Brutalism", forceful Melgacian jazz work. One guy talked about the artist ambition when dealing with an architectural theme in the form of music. It was a compliment. A telling detail is that the participant was one of the "moderators" and then after all the uproar I caused, his words were taken out of that space. He did, only he would have the conditions to remove them and it just proved how all "administrators" act like a swarm and in the worst sense of the term. All right, it was a compliment but other commentators did not realize this and, without a thought by themself, playing a distorted reading at best "who tells a tale, increases by one", these people began to institutionalize this ambition as pedantry. I thought it was not right for me to be silent towards this herd of short-sighted policy. What I tried to do was argue that all great artists are daring beings, differentiated and ... someway ambitious. And so I directed my remarks. After that, I saw a new comment from another participant. As it was more a copy of that comedy of errors, and that means he probably did not read my explanation, this time I tried to dismember his speech "more of the same", and provide the Hector, is the nickname of the distinguished, a thorough review, fragment by fragment. As peroration, my complaint to the lack of site criteria to cover up some "haters" and not "raters". This was the origin of everything.

I want to thank the two official reviewers of Melgaço, Pablo S. Paz and Caio Campbell, because I felt myself inspired by the fertile content of their placements as in how either format arguments, terminology, and so on. I'm really grateful to both.

I thank Caio, with whom I got in touch and who helped me directly in the writing of my text.

My thanks to Pablo too, who, after alerted by Campbell, have had access to my blog, wrote me attentively and added to the official review made for Brutalism, a prologue. He asked me permission to establish some parallels with my previous opinions and I was quite flattered by it. You can check the following link:

http://melgacootacilio.bandcamp.com/album/brutalism-otac-lio-melga-o-duration-31-47

I am also an attentive reader of the always very interesting interviews, testimonials ... coming from Otacílio, spread on their numerous websites.

#

Copy of my Protest registered in rateyourmusic

I had a summarily deleted review ("Brutalism" album by Melgaço; visit the page and understand the context). No warnings or satisfactions. Simply because I made some severe criticisms of "trolls postures" here and how this is purely childish.
This recriminatory act that I suffered it's shameful, coward and dictatorial. A draconian act of censorship and deeply regrettable.

Or everyone can act the way they want by means of dubious criteria, and when they pass through an x-ray, are suspiciously "shielded"? Without being able to be questioned democratically? Truculent acts are allowed, but verbalize questions about these procedures deserve vexatious guillotine? In no time I was pointing the finger at the face of someone through a random or merely offensive mode. My rebellion was about the acts of these people and they deserved a reaction in the same proportion. But, at bottom, is the realm of ideas, without hypocrisy or corporatism, which was being highlighted even by means of strong words. It´s worth remembering that 99 percent of everything I wrote was a wide peroration about music, well reasoned and argued. And of course, everything was stupidly deleted.


Then
The Content:

IN THE NAME OF
AN AMBITIOUS ART;
ON BEHALF OF
SUBSTANTIATED PRETENSIONS
/ EM NOME DE
UMA ARTE AMBICIOSA;
EM NOME DE
FUNDAMENTADAS PRETENSÕES

(Um detalhe, Heitor, mais abaixo, na segunda parte de minha intervenção, faço algumas considerações sobre suas palavras.)

Agreeing with the Melgacian curators, we are facing a very private musician. There are no many available biographical data. I believe that by Melgacian choice. Anyway, there´s much to discover primarily on his creations in its various sites..

The three below seem a perfect prologue -

http://otaciliomelgaco.wix.com/otaciliomelgaco
http://otaciliomelgaco.wix.com/omenglish
http://melgacootacilio.bandcamp.com/

But it´s still valid to say that Otacílio Melgaço is an artist who takes as its starting point the contemporary classical music. But his work includes endless references. Deep roots of the culture of his country, Brazil - antithetical to any stereotyping + expressions of a frantic cosmopolitanism, embracing echoes of various ethnic expressions + avant jazz, electronic, experimental art rock etc. Having more than one hundred albums released, often compared to a Sphinx. Or Chameleon. Or a kind of Minotaur. His art is an invitation to fruition. Or a challenge. “Art does not reproduce the visible; it makes visible”, phrase of Paul Klee. Here, just change the view by the act of listening.

Next, my words about the wonderful Brutalism and I'll write a bit about the other reviews here. For those who do not speak Portuguese, you can use a good online language translation service and be welcome.


´Toda tendência à redução decorre do
(...) terror do infinito.´ (Joseph Brodsky)

Nem sempre a cultura dos - antes 140 agora "adiposos" - 280 caracteres nos serve. Não dá pra entrar num museu, passar por Bosch, Brueghel ou Bacon e ficar 280 segundos diante daquela pintura até seguir em frente para os próximos 280, e acreditar que vamos sair dali tendo qualquer apreensão digna do que estava realmente exposto. Não dá pra resumir uma Obra de Arte, se for mesmo uma Obra de Arte, em duas ou três linhas e achar que algo foi dito que se aproxime da sombra daquela expressão cultural. Nesses momentos, é melhor parar, pensar, sentir e tentar dar, a nosso modo, a atenção que o artista deu à própria criação. Assim podemos ser honestos e saber que nós nos empenhamos para decifrar ou ao menos metabolizar aquilo. Qualquer coisa aquém disso, fica perdida em um tipo patético de Guia Michelin da pintura ou, no caso presente, da música. Convenhamos...

Em 1939, a Universidade de Harvard convidou Stravinsky a dar um curso na série de conferências C.E. Norton. E sua abertura foi: "Considero uma grande honra e (...) não posso esconder de vocês o quanto estou feliz por falar pela primeira vez a uma platéia que se dá ao trabalho de ouvir e aprender antes de julgar."
Palmas para Igor, não poderia ser mais atual esse depoimento. Se ele soubesse o quanto ainda hoje soaria como um imprescindível antídoto a...

Concordo com quase tudo o que foi dito pelos parceiros que escreveram antes de mim. Mas vale escrever mais.

Acrescento que, pela estatura sonora elevadíssima do disco, todas as pretensões me parecem plenamente justificadas. E não há nada de errado nisso, muitas vezes nós brasileiros sofremos de complexo de vira-lata, e acabamos deixando de desenvolver nossas percepções para o que é feito com extrema substancialidade, como é o caso de Brutalism. Esse álbum é uma pérola de tão arrojado e já pertence a outra estratosfera, não tenho dúvida. Eu poderia só me ater ao Brasil, se quisesse. Tudo o que já foi feito de verdadeira ou pseudamente jazzístico por aqui e fazer o paralelo com Brutalism. O cotejo é implacável. São poucos que podem lhe ser paralelizados. Vale cada um ouvir com bastante acuidade essa Obra e ser arrebatado. Esse é o termo. E se partimos para toda a amplitude que paira pelo mundo afora; lendo sites, fóruns, blogs especializados, sejam japoneses, europeus e assim por diante, não é à toa que Melgaço e suas Obras, incluindo Brutalism, entram em "melhores artistas, melhores discos do ano"...ao lado de nomes como Anthony Braxton, Carla Bley, Evan Parker, John Zorn. Essas pessoas que administram tais espaços internéticos, são entendidas, dominam o assunto com seriedade e competência. Mas sabemos muito bem que para cada uma com esses dotes que encontramos e a internet é prova cabal disso, existem milhares e milhares que não passam de "opineiros" e nem sempre nobres em suas intenções. "Acontece que um homem não atinge a condição de Galileu simplesmente por ter sido perseguido; ele também precisa de estar certo", consuma Stephen Jay Gould. Lamentavelmente, nem sempre, ou melhor, cada vez menos acontece dessa maneira no mundo atual.

E assim chegamos a uma série de imposturas que são proliferadas exponencialmente. Como é o caso do real senso de proporcionalidade entre as coisas. Hoje em dia parece que algumas delas, as de cunho elevado, ficaram proibitivas porque tudo se tornou tão fragmentado a ponto de muitos, me refiro aos mesmos "opineiros de plantão", se tornarem autoproclamados experts em microscopia débil e só. Um artista que constrói o que podemos chamar de OBRA e Melgaço tem mais de 200 discos lançados e cada um bastante, incrivelmente consistente e é isso o que mais conta, parece um insulto, uma afronta. Porque está acima dessa pulverização sem face. Porque olha para o mais alto!, mas a Grande Arte é assim.

Ouço bastante do que é feito hoje em dia, no Brasil e fora dele, e temos de saber que o que ele propõe é música contemporânea e isso por si só já torna seu universo singularmente mais complexo. Se nós quisermos ir até zonas abissais, vou dizer de novo para que não me entendam mal, se e somente se formos além da epiderme, a gente tem de, na medida do possível, metodologicamente ou intuitivamente, absorver o que aconteceu de mais significativo e determinante no século passado, seja no ambiente erudito e no não erudito, com uma minúcia que não é todo mundo que tem ou se dispõe. Ter pretensão ou ambição passa a parecer um estorvo porque isso nos desafia, pode parecer um pedantismo. Mas não é isso, e eu acompanho há muito tempo o que Melgaço faz. Não tenho procuração dele para nada, não o conheço pessoalmente, me parece ser um artista super reservado mas está na hora de dedicar uma atenção proporcional à Obra que ele vem construindo. Isso é papel pra gente grande ou com coragem.

E se termos como "grande" ou "coragem" podem ser encarados como também dotados de gigantismo rs, de nada adianta quem quer que seja e falo genericamente, de nada adianta quem quer que seja querer se fazer de ofendido diante disso. É fácil identificar um coro de coitadinhos mas bem no fundo são eles os eternamente pretensiosos, já que eternamente hibernando nesse estado sem conseguir ir além de um mero intento. Tão repletos de pretensões além do que seus tentaculozinhos alcançam que vão continuar nesse estado-de-futuro-do-pretérito para todo o sempre. A menos que levantem as nádegas da cadeira e façam por onde. Choramingar em torno de incapacitações alimentadas propositalmente só para ser foco de comiseração ou complacência ou acreditar que esse coitadismo dá aval para avaliar e qualificar quem quer que seja como um tipo de álibi, não dá. Isso não convence ninguém. Só convence o outro que se vale desse mesmo raquitismo vicioso. E, à base de obscurantismos porque demonstram a falta de capacidade de dizer algo que desperte real interesse apesar, eu quero crer, da - às vezes - melhor intenção (?) e de uma testosterona-placebo já que fica só na ladainha de ambição pretensão inflexibilidade arrogância e lá vão todos entoando, baseados nisso, um unidos venceremos. Não, não vencerão! A impressão que dá é de que um primeiro veio com essa estória de "mega" e todos, como uma cáfila de maria-vai-com-as-outras, ficam tocando essa mesma tecla e, nesse ato menor, perdem o que é principal que é escutar de verdade e tentar uma expressão finalmente longe do lugar-comum. Contendo o mínimo de originalidade e não ecos de "mais do mesmo". Quando todos pensam o mesmo, ninguém está pensando. Um bom ditado.

Pra começo de conversa, há de se ter cuidado com as precariedades de interpretação. Se observarmos realmente o primeiro a se pronunciar, marshmallowc, a conotação que ele dá a "bonus points for ambitiousness" é a melhor. Basta ver as velhas e boas estrelas apontadas por ele. O que disse foi: o artista teve criatividade de imaginar e coragem para traduzir jazzisticamente uma perspectiva do fazer arquitetônico, e, oh boys, palmas por "ter tido peito" para isso! Não é para qualquer um. Alguém sem ambição, por exemplo, nunca o faria. O resto, quero dizer, a partir de marshmallowc nós esperamos que se manifestem cabeças pensantes e não um vinil arranhado baseado em um equívoco de leitura posterior das marias-que-vão-com-a-outra. Se tivessem embarcado numa decodificação (sim falo de "cognição") competente, seriam outros quinhentos mas é esperar demais. [OBSERVAÇÃO: vou reiterar; essa postagem a que eu faço alusão logo acima foi a primeira a ser inserida na página de Brutalism em rateyourmusic. Foi feita por marshmallowc, que é, ou ao menos era naquela época, um dos gerenciadores oficiais. Depois foi retirada pelo próprio, já não se encontra lá. Isso porque, provavelmente, poderia comprometê-lo após minha contestação, pois eu coloquei em dúvida a sistemática deles. Como a argumentação desse indivíduo dava substrato para minha intervenção e como minha intervenção foi um estorvo para o status quo do site; ele, marshmallowc, deleta seu elogio a Brutalism e Melgaço - o mesmo que, sob a interpretação equivocada dos posteriores, deu início a essa saga -. E assim, deletando-o, desfazendo esse rastro, direta ou indiretamente, presta apoio aos outros gerenciadores que surgiram para arbitrar a contenda. No fundo, incumbidos da mesma função, perpetrar uma ação corporativista sumariamente guilhotinesca a qualquer um que cumpra um papel questionador ali.]

...se tivessem embarcado numa decodificação (sim falo de "cognição") competente, seriam outros quinhentos mas é esperar demais. Senão, outra impressão passa a existir, a de que os comentários seguem um mesmo modelo, "vamos, apesar da ambição, reconhecer que é ousado; apesar da ambição, elogiar as texturas; apesar da ambição, é importante ressaltar a coragem, o ecletismo, a amplitude; apesar da ambição, entra na lista dos melhores de 2016; apesar da ambição, marcamos 3 estrelas" e me parece que quando querem mesmo elogiar um disco em todo rateyourmusic, 3 estrelas é, na média, a quantidade mais utilizada. Qual é a leitura que se faz disso? A música é ótima mas devemos ser modestos, humildes. Pretensão? É provocativo ter pretensão, não pode, não fica bem, incomoda. Nem vou dizer que essa é uma reação tipicamente terceiro-mundista, porque é, mas aqui atinge algo mais propriamente generalizado, sem fronteiras. É terceiro-mundista pelo complexo de vira-lata de uns. Mas pode ser primeiro-mundista pela razão contrária, por etnocentrismo de outros. Ambos casos são medíocres. No final das contas, quem se coloca no papel de crítico não se rende como deveria a uma Obra a que tem razões de sobra para se render porque ou não está gabaritado para tal, simples assim, ou senão deixa de se colocar acima dela de algum modo e, por consequência, isso o retiraria do pedestal no qual ele mesmo masturbatoriamente se colocou (talvez, caso não, com a ajuda, tão onanista quanto, de confrades lambe-botas?); não deixa de ser um pouco de um narcisismo kitsch e infantilóide não dar o braço a torcer e dessa maneira sempre há um porém. Tudo bem quando há motivos e não faltam álbuns mundo afora abundantes em poréns mas e quando um porém só existe para cumprir esse mecanismo canalha? Aí não se sustenta.

Tentar desviar o foco da música extraordinária de Brutalism para "aspiração", é ridículo e só comprova o que eu disse acima. E qual o tira-teimas? Seria um deleite discorrer sobre isso tanto em termos estilísticos quanto técnicos mas a melhor resposta é: vá se embrenhar pelo contexto admirável de toda a obra, sua temática, seu escopo, seu histórico. Mais ainda, vá ouvir a música, mas ouvir mesmo, escutar, será a prova definitiva disso. Quem tiver ouvidos para escutar, escutará. Claro que, como tantos, não vale um "faixa a faixa" por 3 ou 5 segundos cada e pensar que isso é suficiente para o mais acacifado dos pareceres epistemológicos. Nem mesmo para repetir a asnice alheia o é. Querer, suplicando por status/bajulação/"curtidas", se passar por espertinho, reivindicando o velho jeitinho brasileiro amparado pela tal da Lei de Gérson, "Levar vantagem em tudo, certo?": Errado!, me desculpe. Isso, hoje em dia, é fazer papel de maninelo, ó mano. E no mais, ainda sobre aspiração: chega de bandos e bandos de artistas sem ambição, fazendo uma música funcional, caça-níquel ou então, tudo bem, simples e honestamente requentando a arte numa mornidão tediosa e mansa. Um dia, mais pessoas despertarão para uma questão bastante óbvia: aquela Arte é grande porque teve ambição e a cumpriu. Foi pretensiosa e justificou em sua qualidade essa pretensão. Qualquer um que nós reconheçamos como gênio, deixa muito claro que sua elevada expressão teve também como combustível, ambição e pretensão. Seja ele mais reservado ou espalhafatoso. Só se sente ofendido com isso quem se resigna ao apequenado, a horizontes miniaturizados. Quando o Brasil se atentar mais para isso, muito mais por aqui vai realmente mudar e desembestar. Não pronunciarei nomes mais recentes porque, particularmente, acho grande parte ainda bastante frágil mas, a começar pela cultura que um dia nos deu Clarice Lispector, Hilda Hilst, Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Lygia Pape, Lygia Clark, Márcia Haydée, Ana Botafogo... e daqui a pouco Nelson Freire se aposenta, parece que Ferreira Gullar e Gilberto Mendes já o fizeram e quem sair por último que apague a luz...se tudo já não tiver se tornado um apagão em definitivo. Culturalmente é o que parece por meio de uma contemporaneidade (não a melgaciana) que mais nos lembra um jardim-de-infância tecnologizado, com raras exceções.

Vou fazer uma citação que nos abre a uma variação de perspectiva e, como um outro lado da mesma moeda, vale constar. Eu falei mais acima ou sobre pessoas com más intenções ou que "pegam o bonde andando" e propagam estultices; tipos bisonhos, abutres de uma "achologia" flácida ou sórdida. A estes, um pouco de Marquis de Custine: "Existem remédios para a selvageria primitiva; mas não para a mania de darmos a impressão de ser o que não somos." Quero dizer, os que se escondem por detrás de uma cortina de fumaça "opineira" que só faz revelar as próprias ignorâncias, maledicências e recalques. Muito bem, virada essa página, um novo capítulo. E aqueles seres que são genuinamente invejosos? Mesmo se involuntariamente. Apesar de que Dante descreve com impecabilidade quem, no Inferno, padece pela inveja que cultivou em vida. Estes, com as pálpebras costuradas com arame: para que olhem mais para si mesmos. Os invejosos. Seriam, no fundo, "desconfortados"? Congelados? Irrealizados? Medrosos? Ou aterrorizados? Um bom frasista como Tom Jobim nos traz um ótimo preâmbulo quando afirmava que fazer "sucesso no Brasil é ofensa pessoal". Sucesso, e talento, capacidade, habilidade, qualidade, êxito, conquistas... Por e para isso trago eu uma partícula de um dos saborosos ensaios de Truman Capote em que ele metaforiza a relação entre cisnes e pardais. "O advento de um cisne em um ambiente começa promovendo em algumas pessoas [os pardais] um sentimento decidido de desconforto. Se há entre os presentes algum 

´alérgico´ a esses cisnes [um pardal de ´pardalidade´ mais pronunciada], sua hostilidade não deriva de inveja, mas, como sugerem, de uma sombra de ´frieza´ e ´irrealidade´ que o cisne projeta. Porém, não é verdade que uma impressão de frieza, normalmente falsa, acompanha a perfeição? E não é possível que o que os críticos sentem seja, na verdade, medo? Na presença do muito bonito, como na presença do imensamente inteligente, o terror contribui para a nossa reação geral, e é tanto medo quanto apreciação que causa o golpe gelado que por um momento nos assassina quando um cisne aparece deslizando." 
A word to the wise ...

Continuando...
Eu falava da música contemporânea. Existe uma música contemporânea séria no Brasil. Sim. Mais escassa do que deveria, mas sim. Muitas vezes, pouco pretensiosa, pouco ambiciosa mas sim. Entretanto existe muita, mas muita incipiência naqueles que a fazem, ou melhor, no espesso estrato dos que pensam que a fazem. Há muita redundância; há uma monotonia pueril ou falta de criatividade explícita; às vezes tentativas de chocar o ouvinte ficando entre estrambólico e charlatão, ...; variações em torno dos mesmos ruídos esgarçados e paisagens banais. Essa precariedade já caiu por terra há décadas mas muitos compositores e instrumentistas ainda não acordaram para o fato de que estão cristalizados no tempo. Existem, por exemplo, muitas composições enregeladas, até boas ou nem tão boas, mas que seguem uma mesma fórmula a vida inteira. Um público desavisado, pouco exigente ou piedoso demais acaba contribuindo para isso. Otacílio se arrisca, nos propõe um jorro de diversidade e com uma eloquência que é assustadora. Também não fica preso num mundinho contemporâneo; ele vai buscar no jazz, em referências de outras culturas, mesmo na cultura brasileira mais profunda, elementos pra desenvolver e apontar a novas direções. Mais abertas, interativas. Procure observar e usufruir dessa estupenda abordagem mais conjuntural de O.M.; lhe será bastante construtivo, eu posso garantir.

As conjunções e geometrias harmônicas que se estendem por Brutalism são extraordinárias. Existem sugestões melódicas disfarçadas que somente quem abrir mais a audição é que vai ter acesso. Se instruir sobre o brutalismo na arquitetura e trazer esse conceito para ser detectado no corpo sonoro desse disco é o mínimo e vamos encontrar correspondências que são fáceis de perceber, são propositadamente explícitas e engenhosas, estão lá, digo de novo, a quem tiver ouvidos para escutar e uma percepção rigorosa para ser posta em prática. Nem trato da ritmicidade, que é impactante e espantosa. O timing, vou chamar assim, do disco é precioso, para a estrutura e conformidade de uma obra com essas características, 31 minutos e 41 segundos são a condensação ideal. É a poética-da-forma. É verdade, nunca antes a arquitetura foi tanto música petrificada. Mas que aqui não cria limo. Por essas e outras, ouvintes ativos, acho que é preciso dar esse salto.

"O homem de gênio nos inspira com uma confiança ilimitada em nossas próprias capacidades", disse Ralph Waldo Emerson. É exatamente isso o que se faz presente através de Otacílio e suas criações! Melgaço justifica pretensões e ambições fazendo uma música de grande estatura e, ainda por cima, generosa; por isso é um absurdo criarem uma ilusão de que é intimidante a ponto de tentarem, num mecanismo de defesa, rechaçar isso ou aquilo, aqui ou ali. Não é uma questão de ego. Está muito acima disso. Mesmo assim, há luz no fim desse túnel porque não acho que seja o que acontece por aqui, a maioria dos comentários e ranqueamentos é positivíssima. Fico feliz. Pelo grau de exigência de compreensão e assimilação dessas músicas, está de ótimo tamanho. Fiquei surpresa até. Nesse aspecto, pontos para rateyourmusic. No entanto, essa maioria, é claro, não esbarra no status quo imposto por essa engrenagem, não o questiona. Como eu o fiz. Em todo caso, se seguem obedientemente o itinerário como lhes é proposto, o fazendo com honestidade, responsabilidade, já está de bom tamanho mesmo.

Do mesmo modo que um profissional qualquer, se irrepreensível, tem a necessidade e o dever de se manter atualizado tanto intelectual quanto instrumentalmente; um Artista, se dá sentido a esse termo, tem a "obrigação" de ser pretensioso e ambicioso, só que a acepção anti-taxidermista disso é bem clara: obrigação de sempre ir além, de ver o que está mais adiante e se arriscar e prosseguir. E nós vamos juntos com ele. Estamos juntos e vamos adiante juntos, o grande Artista é dadivoso, Melgaço o é. São raros hoje em dia mas O.M. é um deles e saibam que eu decidi me expor aqui por Otacílio porque vivencio profundamente o que estou manifestando; de corpo e alma acredito nisso e atesto convictamente o que escrevo, palavra por palavra, letra por letra. Estudei música, dentro e fora do Brasil (espero, devido a essa informação, não ser apedrejada pelos vira-latistas) e, mesmo não sendo uma musicista profissional por opção, é prazeroso, dá gosto de poder analisar músicas como essas e fazer valer tanto nossos conhecimentos conquistados através de muita dedicação quanto dar asas a nossas percepções mais expansivas. Sem deixar de registrar o proporcionado gozo do puramente sensorial, emocional e espiritual. Vou dizer novamente para não restar sombra de dúvida, é banal ouvir alguns segundos de uma faixa e outra, e depois lançar formidáveis declarações como "legal, bacana, supimpa, cool, X estrelas". Isso eu deixo para a seção teen de rateyourmusic. Bom notar que isso não acontece aqui. Mesmo assim, precisamos de desenvolver sempre mais nossa ácie e conhecimento, autodidaticamente ou o que for, pra tentar decifrar se com mais profundidade esse manancial como o de Melgaço e de outros, claro. E proponho a vocês fazer o mesmo, sem "pré-conceitos". Abertos a forças que são, diferentemente dos pratos-feitos de hoje em dia, forças de uma potência descomunal. Acham que as resenhas desses discos são hiperbólicas? Que nada. Colossais são as músicas ali, as resenhas lá em bandcamp só reverberam isso.


Ainda sobre pretensão e ambição e, de quebra, falando do cenário brasileiro e mundial, não podemos nos resignar ao miserere nobis como dizia o já bem citado Jobim, fazendo uma crítica a uma série de coisas mas também à dificuldade que temos para reconhecer sem pudor um artista brasileiro se ele realmente merece e basta visitar um pouco o bandcamp de Melgaço para notar que milhares de provas audíveis ele nos dá. Então, abaixo o miserere nobis!, essa síndrome de manter sempre o rabinho entre as pernas, de acreditar que o literato francês pode escrever sobre o homem dos trópicos mas se um homem dos trópicos ambicionar, tiver a pretensão de versar sobre Paris, que absurdo, quem pensa que é? Basta dessa tendência atacanhada, passou da hora de reconhecermos o que realmente tem sido feito no Brasil e que fica em pé, tem substancialidade de sobra pra isso e encara o que é feito de melhor fora daqui de igual para igual ou até mais. No caso de O.M., tenho certeza de que mais.

Ouçam mais a Obra de Otacílio Melgaço, pela diversidade, qualidade, envergadura; sem negar suas raízes mas não encarcerado nelas...já nasceu universal e é com uma honra enorme que me manifesto aqui a respeito. Falo de um destino musical e cultural que nós merecemos permitir que nos abrace, nos transforme, nos leve adiante. E é esse o destino aonde essa Obra vai levá-los. Do modo mais solidário, desafiador, expansivo e, por fim, libertador.

A salute to the ambitiousness,
OH BOY
H

B
O
Y,
one of the common characteristics among the great artists! As Otacílio Melgaço is. ;-)

Duquemon, marshmallowc, abraço aos dois, the two embraced.


(Abaixo, eu reproduzo o comentário não sei se de um dos "raters", mas de alguém cujo nome é Heitor e que me parece um exemplo bem proveitoso para se analisar depois do que já foi lido até essa altura. Fragmento sua participação porque sigo respondendo parte por parte.)

HEITOR - lendo releases do próprio artista

HAVILLAR - Obviamente são observações de curadores, portanto pessoas que acompanham todo o processo e que lhe são admiradoras e que passam a responder por ele.
Nunca vi um curador - que se preze prestar um desserviço ao artista a quem ficou incumbido de apresentar ao público. Falo dos que realmente abraçam com primor esse papel. Uma de suas funções mais nobres é a de auxiliar o mesmo público no contato com as diversas dimensões daquela obra, incluindo as mais complexas. Naturalmente estamos falando de profissionais que aprovaram aquela produção e que lançam mão de suas capacidades argumentativas para referenciá-la. E se lá encontram uma estatura que tende a ser notada, darão o devido valor a isso.
Críticas e demais manifestações devem ser uma decorrência inclusive excitada pelos próprios releases, como é de praxe. E não é o que estamos fazendo aqui? O que acho ótimo.
Sugiro a seguinte leitura que lida exatamente com essa questão,

https://otaciliomelgaco.wixsite.com/preamblebypsp

está disponível no próprio bandcamp de Melgaço. Vale muito a pena ler.
Só para abrir mais a visão, existe outro link, e não é da curadoria, é de um zine independente, que traz uma crítica competente sobre Brutalism,

http://anthemalbums.blogspot.com/2016/01/otacilio-melgaco-brutalism.html?spref=fb

Fique à vontade para conferir também. Há muito o que aprender por lá.


HEITOR - e passando por resenhas de ´gente entendida das Artes´,


HAVILLAR - Se se refere a mim, com ou sem ironia, me sinto lisonjeada de todo modo, querido Heitor.

HEITOR - tive a sensação de parecer um ser inútil ocupando muito espaço no cosmos.


HAVILLAR - A intenção não era essa. Se passei algo assim, lhe peço desculpas. Mas não sejamos cegos nem hipócritas, existem muitos inúteis por aí ocupando muito espaço no cosmos. Quero mesmo respeitosamente crer que não é o seu caso. Mas posso estar enganada... Bom, se sou exigente em minhas colocações, que me parecem ponderadas, é uma verdade. Defendo um aprofundamento, seja pela sensibilidade com ou sem conhecimento. Se sem, há muitos mecanismos para uma manifestação digna de todo o respeito e capaz de fazer uma leitura tanto quanto a fazer jus à obra. Mas se com conhecimento, melhor. A menos que tenhamos de nos ver fadados a uma ideologia subdesenvolvimentista que atua contra a ´gente entendida´. Uma cultura que abomina o 

´entender´ está mesmo fadada a um vácuo crônico. Se com conhecimento, melhor. Não por alguma superioridade, mas simplesmente por estarmos todos mais preparados para olhar por vários ângulos se olhamos para uma obra que possui vários ângulos. Tente enfrentar o mundo lá fora sendo defensor de uma ´ética ou estética da pobreza´ de conhecimento, essa sacralização da ignorância, e o banho que vai levar será, na realidade, um dilúvio. E qualquer postura de coitadismo, a ´nobreza da incultura´ para que passem a mão em sua cabeça e o tomem como um ser especial, exótico, ´intuitivo´, a ´força da natureza´ vinda de terras distantes e que ´se fez sozinha´; que derramará rios de lágrimas ao menor sinal como sinal do quanto teve de lutar tendo tão pouco (e, seguindo esse exemplo da ode à insipiência, optando por esse ´pouco´ como um tipo de estratégia), ...desista, você será devorado em um tempo. Nos tempos atuais, falta de acesso à informação, instrução...não é mais desculpa para nada, estamos cansados de saber disso. Melhor se preparar, se esforçar mais. A lei do menor esforço não vai salvá-lo, tenha certeza. Não terão pena de você. Muito menos terão respeito. [Me parece evidente que o que acabo de argumentar não tem relação alguma com as significativas camadas mais pobres de um país como o nosso, partes de baixo da pirâmide, e que de fato são desguarnecidas da presença decente do Estado - incluindo em fundamentais Educação e Cultura -. Sua extrema e inquestionável carência do que as Instituições governamentais por obrigação constitucional lhes devem (e por negligência lhes negam) há de ser suprida se um dia houver real democracia, e não mera eleitocracia, do "Oiapoque ao Chuí". Nisso acredito e, sem cartilhas ideológicas, o que faço é me angajar como cidadã.] 

Retomando...

Perceba que eu citei que estudei música mas não usei o Musiquês em nenhum momento. Porque assim poderia parecer algum poderio, o domínio de um código que estabeleceria hierarquias. E não é por aí. Porém eu falava dessa busca humana por sempre ampliar nossos horizontes e não posso acreditar que alguém tenha algo contra isso, concorda? Não é questão de ´ou assim ou assado´, falo de somarmos. Acredito nessa disposição e boa vontade de todos para terem mais e mais instrumentação a fim de que aprofundamentos e observações abrangentes aconteçam.


HEITOR - a prepotência e a megalomania - e eventual competência - do artista devem ser estudadas por todos aqueles que gostam de [tentar] entender a evolução da Música como Arte.


HAVILLAR - É quase curioso como qualquer postura que visa ser elevada, hoje em dia é imediatamente rotulada de ´prepotente e megalômana´. Mas, mesmo se abrisse mão das palavras de Joseph Brodsky quando afirmara que tendências à redução costumam decorrer do terror ao infinito, isso ainda é facílimo de explicar. Como grande parte de tudo passou a ser nivelada tão por baixo (tanto o que é observado quanto o próprio observador), passou a acontecer o seguinte: ´quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.´ Nietzsche, só pra constar. Mas vou mudar um pouco, ´mais insuportavelmente grandiloquentes parecemos´ e então abaixo a elevação! É uma afronta à tacanhez generalizada. Melhor que todos sejam nivelados por baixo assim nada os provoca; nada aponta para essa falência de um humanismo sempre em processo de maturação; nada os inquieta, os incomoda em suas zonas de conforto. E aqui um comentário rasgado de certa aforista brasileira que cabe como uma luva: ´A distorção de valores chegou a tal ponto que pessoas discretas são consideradas arrogantes (...) e as que não se rendem a modismos são taxadas de esnobes. Ser autêntico (...) virou ofensa pessoal [também]. Ou a criatura faz parte do rebanho, ou é um metido a besta.´. Se Wagner fosse vivo, seria queimado em praça pública. E nem falo da apropriação errônea que fizeram dele na Alemanha nazista, o que foi um horror! Falo do conceito de Obra Total, somente isso já justificaria sua crucificação no mais alto dos montes virtuais. Mahler, e sua monumentalidade, e sua Sinfonia dos ´pretensiosos´ Mil, mereceria a prisão perpétua. Boulez seria linchado como prepotente e megalomaníaco por botar a boca no trombone e sempre sem rodeios dizer o que achava de seus colegas assim como de propor rumos tão exuberantes à música. Poderia citar vários exemplos.

Essa argumentação que julga a potência do artista, comparando-a a de um julgador que se sente minorizado e por isso toma a estatura como um fator negativo, isso não cola. O que realmente complica tudo é alguém se propor a falar sobre uma obra de Ludwig Joseph Johann Wittgenstein, se suas referências literárias ou´filosóficas´ são Paulo Coelho e Lair Ribeiro. O que realmente complica é se aventurar a decifrar a música de Hans Werner Henze tendo como base referencial André Rieu ou Raimundos. Me desculpe, é risível, não cola. A internet abriu espaço para milhares de pessoas fazerem isso mas qualquer indivíduo, se minimamente em estado de sã consciência, intelectualmente e sensorialmente nem perde seu tempo com esse tipo de infantilidade ou burla. (Nota: citei Raimundos porque é uma das referências que encontrei no perfil de Heitor e isso revela muita coisa. Pra bom entendedor, meia palavra basta).

De volta à sequência contextual.
Complementando essa tendência vitimizada, a competência vultosamente perceptível é antecedida por 
´eventual´ rs. Um quadro clássico e previsível de uma cultura da tacanhez e de uma fragmentação viseirante que, infelizmente e como já disse, nivela geralmente à altura do chão - partindo na maioria das vezes das bases de uma arte menor e de um arcabouço crítico proporcional a -. E o caso, aqui e agora, queridíssimo Heitor, é o contrário. Mas como sou uma pessoa que acredita na capacidade de todos nós sempre evoluirmos positivamente, se há os que tentam entender mesmo, não falo agir com preconceitos, apedrejamentos, ou gente que se sente ofendida por artistas que ainda olham para o mais alto e tentam abraçá-lo com seus talentos e árduo trabalho, se essa tal gente e eu me incluo nela, tenta entender a evolução e com sinceridade, mente aberta, sem pedras nas mãos ou um sentimento de ser minorizada em vez de nos unirmos em prol de um bem comum, capacitantemente comum, elevadamente comum, isso é fabuloso. Essa gente eu respeito.

HEITOR - isto posto, frente à inflexibilidade e à aparente arrogância do músico,

HAVILLAR - [OBSERVAÇÃO: impossível não relacionar o excerto de Capote que pôde ou pode ser lido mais acima e essas palavras de nosso prezado Heitor. Como Truman tinha razão, não?]

Não pode haver uma música mais flexível que a desse músico, basta mirar sua discografia vastíssima e tudo o que lhe é conteúdo, e essa ´arrogância aparente´ está nos olhos de quem olha mas será que está mesmo enxergando alguma coisa?

Na música, e ouço constantemente a Obra de Melgaço, não há nem inflexibilidade e nem arrogância. Nos releases oficiais, há apreços de curadores e se me perguntar se são justificados, volto a ouvir a música porque essa é a prova dos 9 e digo que Sim! Mas ouça com acuidade. Leia talvez repensando a entonação. Nem sempre afirmar que algo é colossal deve imediatamente ser uma ofensa a nós como se tivesse o intuito de nos diminuir ou mesmo ser tido como um exagero instantâneo. Até hoje ouço O Pássaro de Fogo ou A Sagração da Primavera e sou arrebatada. Devemos voltar a nos permitir ser arrebatados, entende? Reconhecer a grandiosidade onde ela existe, é um ato de grandeza também. Compartilhar o grandioso, o mesmo. E nem estou me referindo unicamente a um disco como Brutalism, me refiro a ele e a todo o contexto de uma Obra com dezenas e dezenas de álbuns disponíveis e, acompanhar esse histórico é mesmo se permitir ser arrebatado. Pela força da Arte, da essencialidade da Arte que a contemporaneidade não conseguiu sepultar ou efemerizar. Repito o que escrevi mais acima, é hora de darmos um basta a essa cultura do miserere nobis. Ou será que qualquer postura ou reivindicação emancipatória será necessariamente taxada de pedantista? Como tantas pessoas se sentem ofendidas com isso, é impressionante! Vamos ao ponto que interessa, se tentam entender mesmo as evoluções, então que todas as percepções e conhecimentos sejam elogiados e não censurados ou depreciados, não é verdade? Porque quando cheira a censura ou depreciação, é tão desbaratável, só revela a fragilidade e a subnutrição com que muitos têm se aproximado de uma arte tão potente como é a música.

HEITOR - só me sinto em condições de avaliar o trabalho no que diz respeito à ousadia e à coragem por ele tomar tal iniciativa.


HAVILLAR - Como fica não só implícito mas límpido de se perceber, a questão não é tanto a música que é fruto dessa iniciativa, música ousada e corajosa de um artista corajoso e ousado mas, antes desse desfecho construtivo, o que se deu foi uma depreciação que se voltou para outra coisa, não para a música, mas para o quanto é um incômodo quando nos deparamos com alguém com ´o olhar para o mais 

alto´. Alguém que além de ser capaz desse vislumbre, se eleva propriamente e nos leva com ele. E não deixo de observar e comentar, ambas são a mesma coisa. Mirar o mais alto e ser ousado e corajoso! Indubitável, Heitor: você potencialmente tem essas condições de avaliar e muitas outras. É uma obra ousada, é corajosa e isso só nos faz ser também mais corajosos e ousados, exatamente o contrário de ´inúteis ocupando muito espaço no cosmos´, não é? Descobrir a Arte de Melgaço me parece ser um estímulo a ocupar todos os ´Espaços no Cosmos´ como Seres singulares e que se irmanam mais e mais. Fico feliz em ter você como um interlocutor por aqui. Sempre há mais a se aprender se existe uma interlocução de verdade, não é verdade? Assim, e em todas as conotações, abrimos mais e mais Espaço no Cosmos, querido. Hoje em dia, nada tão imprescindível quanto isso. Um abraço sincero.


(A título de curiosidade, a partir de um registro que eu lá deixei mas que foi também deletado, aqui está meu epílogo ao ´rateyourmusic´ e que ratifica o cerne de minha crítica a esse site. Finally, from a record I left there and also deleted, an epilogue that ratifies the core of the criticisms I make with the site ´rateyourmusic´ as the focus.)

Oh Lord, I should mention the existence of ´a teen section of rateyourmusic´. |o| Today saw half-star given by psgels. Something quite freak that made me go check his profile. And there I read: "I get a lot of comments about how I'm supposed to be a troll account. I presume that is because I rate lots of stuff with 0,5 stars. My reason for that is that I find 95% of music that comes out to be not worth my time, and I find the stars-rating for music you don't like to be silly: why should it matter whether music you don't like has 1,5 or 2 stars? So yeah, if an album gets anything else than 0,5 stars, it just means I like it. The site's called rateYOURmusic after all, not rateOURmusic. ;)" Each demented with his mania. Okay, is one point of view, perhaps more than ´rate´ is ´hateyourmusic´. lol It is time to people stop making ridiculous and express themselves about music seriously. It would be important, at least, before they try to form a sentence to take effect, to have mental conditions to go beyond kindergarten. Or circus. Or would be asylum? No star for them. I have no time for such antics. Not worth our time, mr. psgels. 0 star for you, preachy troll. ;) More! Visiting the profile of his little friend, OwzoTheSoundchaser - his name also appears below, I can note, emulating the same poor logic, the following proposition: "Total aural terrorism..." lol Unfortunately there are brats or clowns or crazy ones here who commit two types of imbecility. First, identify themselves as "terrorists" and have fun with their derogatory jokes and games. Will their lives are so empty at this point? Second, do you believe that really they hear the artists and the music? Certainly they do not. If miraculously they hear, probably the time used to listen seconds of each track (is already a lot), this time should be the same as they lose brushing teeth, if they do so. Lamentably, their brains, their minds can not be brushed, should be full of cobwebs, no doubt. Let there be patience with the ludicrous kids ... But here, sorry moppets, we remain in the adult world!"



SUPPLEMENT

Recently, Pablo S. Paz included a note on the official page of the album "Brutalism" in Bandcamp. In my opinion is quite applicable and I post now / here as a welcome annex:

"´La cucaracha, la cucaracha
ya no puede caminar
por que no tiene
porque le faltan
las dos patitas de atrás
una vez la cucaracha
se metió en un hormiguero
y las picaras hormigas
las patitas le comieron
pobrecita cucharacha
anda renga y afligida
caminando a paso lento
escondiendose de dia
la cucaracha, la cucaracha
ya no puede caminar
por que no tiene
porque le faltan
las dos patitas de atras
la señora cucaracha
se ha comprado una bombacha
toda llena de botones
y adornada con hilachas
que bombacha mamarracha
le dijeron los ratones
pero a doña cucaracha
no le importan opiniones
la cucaracha, la cucaracha
ya no puede caminar
por que no tiene
porque le faltan
las dos patitas de atrás.´
(´La Cucaracha´, a traditional Spanish folk song.)

As an appendix to everything I've written specifically in my Prologue, I can't forget to add an incidental reference that visits my mind now. I remember a great Brazilian cartoonist, journalist and writer (as well as Melgaço, born in the state of Minas Gerais), Henrique de Souza Filho - known as Henfil - and an account of him from a stay in the United States of America (between 1972 and 1975); a description that turned into a book released in 1976.

www.google.com/imgres?imgurl=https%3A%2F%2Fassets-brazil-cartoon.s3-us-east-2.amazonaws.com%2F-2811070678724659589.png&imgrefurl=https%3A%2F%2Fbrazilcartoon.com%2Fbrazil-cartoon%2Fwork%2F30003%3Flanguage%3Den&docid=yr1CWTpb1QpmtM&tbnid=E-vdk04L53lmCM%3A&vet=10ahUKEwjztvbevdTjAhWmFbkGHd_xAboQMwhbKCIwIg..i&w=620&h=334&bih=671&biw=1280&q=di%C3%A1rio%20de%20um%20cucaracha&ved=0ahUKEwjztvbevdTjAhWmFbkGHd_xAboQMwhbKCIwIg&iact=mrc&uact=8

He commented on how observed the approach that most Latin Americans received from many US citizens. Henfil referred to their being judged as ´cucarachas´ (cockroaches). Nor is it necessary to draw the parallel between characteristics of the insects of the order Blattodea and, from a racist conjuncture, those related to the peoples of Latin and Southern America. It is too evident. Of course there are exceptions - especially in the new Yankee generations - and they should be honored, but has it tangibly changed - either more explicitly or surreptitiously - from those years to today? Draw your own conclusions. (...) Just take into account the terminology that current US President - and media star - Donald John Trump has used recently [this additional note is being written in 2019] for those trying to enter ´his´ country through Mexico: 'infestation' ergo 'plague'. (...) [Nothing that the building of a Gargantuan, dedetizating and shameful Wall won't solve, is not true?]

Being hemophilic and contracting AIDS at a time when blood banks were quite negligent, Henfil, who unfortunately died in 1988, stressed then how much this influenced the conduct of Latins, who were seen and treated as inferior, and who began to feel this way to the point of perceiving themselves subhumanly invisible, invisibilized. In other words, viewed and faced as a Nothing. What's worse, with the self-esteem seven feet below ground, even coming to the paroxysm of looking at themselves as ´pests that deserve to be exterminated´. But generally speaking (in keeping with the above example inasmuch as, sure, there are deplorably others similar in various corners of the world), its perception is that they are insignificant, their cultures are negligible, their lives are worth less, etc., compared to the North American. Henfil shrewdly called this ´Cucaracha Behavior.´

The effect in question is doubly harmful. Because there is the prejudice suffered (externally) and also (hence the expression 'behavior') the feeling of disqualification comes to occur, be generated and inhabit them internally. Something that becomes the ruler / scale of their existence (in society and innermost). Heinous exogeny & endogeny. Anyway, the analogy and pertinence of my quote seem undeniably clear to me. I hope likewise for you. Consequently, ´nuestras disculpas´ (sic) but we frontally do not accept this (i.e., the perpetuation of what was and is veridical about it, either in the exact sense narrated or in any castrating collaterality), neither from foreigners nor from fellow countrymen, if with ´cockroach´ mentality & comportment.

Yes, ´I think we are all here for a huge purpose. I think we are not here for shrink from the immensity of the purpose´, regardless of our ethnicity; our civilizatory origin; our legitimate customs / habits / legacies; our idiosyncrasies; our geographical location; ... my, your, her, his, their, our daring / authentic pretension / rightful monumentality / brilliance / artistic genius and so on. Yes, the immensity of the lofty purpose of each one of us must be recognized, assumed, embraced, fulfilled; I affirm with unwalled conviction."

"If we could see the miracle of a single flower clearly, 
our whole life would change."
- Siddhārtha Gautama
(Se pudéssemos ver claramente o milagre de uma única flor, 
toda a nossa vida mudaria.)

The paraphrase is mine:
"If we can clearly hear the miracle of this Melgacian sound flowering, our whole life will surely change. (...) Actually, I don't know if ´the whole´ because this may be pure utopia but at least the most fruitful part. That would be more than enough. [Se pudermos ouvir claramente o milagre dessa floração sonora melgaciana, toda nossa vida certamente mudará. (...) Na realidade, não sei se ´toda ela´ pois isso talvez seja pura utopia mas ao menos a parte mais propensa a frutificar. Isso já seria mais que suficiente.]